domingo, 20 de novembro de 2016

Sete elementos que ajudam a explicar a vitória de Donald Trump


1. Trump recebeu os votos dos republicanos, noventa por cento das pessoas que se identificam com o Partido Republicano votaram no seu candidato. Trump também ganhou entre os independentes, por 6 pontos. A maior parte dos seus eleitores têm o perfil republicano clássico: são mais idosos, mais brancos, mais religiosos e menos urbanos do que os democratas.

2. Esse sucesso tem uma causa: a polarização. Dos eleitores de Trump, 27% afirmam que seu candidato não transmite confiança. Uma percentagem semelhante diz que ele não tem um temperamento adequado para ser presidente. 
Por que, então votaram nele? Uma explicação é que, apesar desses defeitos, eles preferiram Trump do que Hillary Clinton ou a outros democratas de maneira geral. 
Dos eleitores de Trump, 72% justificam o seu voto com um motivo: "Ele pode trazer a mudança necessária". São sintomas da polarização partidária que vem aumentando nos EUA há vários anos. Um dado: 23% dos liberais e 30% dos conservadores admitem que veriam com maus olhos caso um familiar se casasse com uma pessoa que tivesse ideologia contrária a deles.

3. Trump superou o seu antecessor republicano em um grupo: o de etnia branca sem curso superior. Em 2004 e 2008 os republicanos ganharam nesse setor com 20 pontos de diferença. Trump ganhou agora com quase 40 pontos. De acordo com o texto do jornal The New York Times, é possível vê-lo com clareza. Os brancos sem curso superior constituem um grupo numeroso –cerca de 34% de todos os norte-americanos, e especialmente em estados decisivos: em Iowa, eles são 49% do total; em Wisconsin, 45%; em Ohio, 42%; e em Michigan, 37%

4. Trump conquistou eleitores pobres, mas não foi o mais votado entre eles. Ao contrário: o candidato republicano foi vitorioso entre as pessoas com renda mais alta (acima de 200mil dólares), enquanto Clinton venceu entre as com renda mais baixa. Mas é verdade, também, que Trump diminuiu a distância, em termos de renda, entre republicanos e democratas. Não só em relação a Obama, mas também a John Kerry em 2004. A relação entre renda, raça, nível de formação e meio urbano e rural é muito complexa. Se Trump não ganhou entre as pessoas de renda mais baixa, é provavelmente porque as minorias raciais –sobretudo os negros—votam nos democratas. Mas Trump ganhou terreno entre os eleitores brancos com baixa formação e renda mais baixa.

5. Houve eleitores de Obama que votaram em Trump em estados-chave. Os democratas "perderam essa eleição porque milhões de eleitores brancos da classe trabalhadora que votaram em Obama mudaram e optaram por Trump", dizia o analista eleitoral Nate Cohn esta semana. Em 30% dos 700 condados onde Obama ganhou em 2008 e 2012, a vitória, desta vez, veio a Trump. Vários desses condados pertencem a estados do meio oeste industrial, que acabaram sendo essenciais para a vitória de Trump no colégio eleitoral.
São condados mais brancos, em sua população, do que a média, mas onde Obama se mostrou muito forte. Como explicação, Cohn assinala uma semelhança entre Obama e Trump: "Os dois se apresentaram como agentes de mudança, contra o establishment e os interesses corporativos".

6. Há muita coisa que ainda não sabemos sobre esta eleição. Os dados sobre o comparecimento do eleitorado às urnas ainda estão incompletos. Na Califórnia, passados dez dias, os votos ainda estão sendo contados. Não é verdade que o número tenha caído muito nem, provavelmente, que Clinton  perdeu porque não mobilizou as minorias, os jovens ou as mulheres.
Também não sabemos com clareza o peso que teve o voto dos "exluídos" ou dos "deserdados da globalização", e se esse elemento é realmente crucial para compreender essas eleições. Essa é uma das interrogações do nosso tempo: a relação entre expectativas, nostalgia, globalização e crise. Mas ela não é nada simples.

7. O analista Nate Silver disse  que muitas conclusões peremptórias têm sido tiradas nos últimos dias sobre a vitória de Trump: "A mentalidade reacionária está no topo nos EUA", "os demônios do racismo e da misoginia estão de volta", "aumenta a divisão entre as elites das costas leste e oeste e o resto do país". Entretanto, o resultado foi muito apertado, mas Hillary, teve mais votos do que Trump. Se 1% dos eleitores tivesse votado diferente, ela teria ganho e as conclusões seriam bem diferentes. Estaríamos falando da primeira mulher a assumir a Casa Branca.

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