História do Brasil
Foi a partir do século XVII que as terras do interior do Brasil passaram a
ser rotineiramente exploradas. O desbravamento e povoação dessas terras
foram iniciados por expedições pioneiras chamadas de
Entradas e Bandeiras.
As Entradas geralmente eram expedições oficiais, ou seja, foram
organizadas pelo governo da autoridade colonial. Já as Bandeiras tinham
motivação particular, isto é, eram organizadas por colonos que se
estabeleceram nos povoados.
Os historiadores ainda hoje debatem
sobre a caracterização dos dois tipos de expedições, mas ainda assim
aceitam a diferenciação mencionada acima. O mais importante é entender
os fatores que ocasionaram a criação das Entradas e das Bandeiras e as
mudanças que essas expedições provocaram no processo de colonização do Brasil.
Riquezas e escravos
As Entradas e Bandeiras foram expedições organizadas para desenvolver o
interior, além de procurar riquezas minerais, tais como ouro,
prata e pedras preciosas. Não foi uma tarefa fácil organizá-las, e muito menos
explorar o interior do território brasileiro, havia a necessidade do
preparo de muitas provisões, como alimentos, armas e instrumentos, que
deveriam ser transportados por animais e pelos próprios exploradores.
Outra tarefa difícil era reunir homens corajosos que estivessem dispostos a
penetrar mata adentro, sem a
certeza de que retornariam com vida para seus povoados e do êxito que
teriam na descoberta de riquezas.
As Entradas, que eram organizadas pelo governo, tiveram início logo após a descoberta do
Brasil. Já em 1504, Américo Vespúcio organizou uma Entrada composta por
trinta homens que partiu de Cabo Frio e penetrou no sertão. Martim Afonso de Souza
organizou duas Entradas. A primeira foi composta por quatro homens,
saiu da Guanabara e permaneceu no interior por cerca de dois meses. A
segunda foi composta por cerca de 80 homens e chefiada por Pedro Lobo.
Saiu da ilha de Cananeia (no atual estado de São Paulo) e jamais
retornou. Após o estabelecimento do Governo-Geral em 1548, as Entradas passaram a
ser organizadas com mais frequência, porém restringiram-se a explorar o
interior da Bahia e de Minas Gerais.
São Vicente e São Paulo
As Entradas começaram a declinar no início do século 17, enquanto as Bandeiras, começaram a se expandir no
início desse mesmo século e se estenderam por todo o século
seguinte. Foi na vila de
São Vicente que surgiram as primeiras
Bandeiras. O solo dessa região, impróprio para o plantio da
cana-de-açúcar, ocasionou o rápido declínio da produção açucareira
levando a estagnação econômica dos povoados. Os habitantes da região
tiveram então que encontrar outra atividade econômica para sobreviver. A
alternativa foi a organização das expedições desbravadoras.
Mas a
Vila de São Paulo também ficou famosa pela organização de expedições
bandeirantes. As Bandeiras organizadas pelos habitantes de ambas as
vilas dedicaram-se, inicialmente, a convencer os índios a trabalharem na mão de obra escrava dos engenhos produtores de açúcar,
situados nos ricos solos do Nordeste brasileiro. Seus alvos principais
eram as missões jesuíticas que concentravam grande número de índios em
fazendas, para serem pacificados e depois catequizados pelos religiosos
da Companhia de Jesus.
O colégio de Piratininga
Foram os jesuítas, liderados pelo
padre Nóbrega, que se estabeleceram na região de Piratininga,
fundando um pequeno povoado que cresceu e deu origem à
vila de São
Paulo. Tudo começou com a construção de um colégio e uma casa, que eram
locais para catequese dos índios. Com o surgimento das Bandeiras e das
atividades de caça e apresamento dos índios, os jesuítas entraram em
conflito com os bandeirantes. Na década de 1640, os bandeirantes
expulsaram os jesuítas de São Paulo. Muitas missões jesuíticas, além das
que se fixaram em Piratininga, foram destruídas pelos bandeirantes.
Substituição do índio pelos afro-descendentes
Com a substituição do índio pelo afro-descendente no trabalho escravo da
grande lavoura, o ciclo do bandeirismo de caça e apresamento dos nativos
declinou. Os bandeirantes passaram, então, a se concentrar na
exploração de riquezas minerais. As Bandeiras organizadas pelos
habitantes da V
ila de São Vicente começaram a procura de ouro nos leitos
dos rios da região e se expandiram pela zona litorânea.
As
Bandeiras organizadas pelos habitantes de São Paulo, com o mesmo
propósito, foram motivadas a penetrar no sertão brasileiro, favorecidas
pela situação geográfica da vila e pelo curso dos rios da região, que
facilitavam a exploração do interior. Mas é importante assinalar que a
participação do elemento indígena não parou por completo, pois os próprios
bandeirantes passaram a utilizar a mão-de-obra indígena nas pequenas lavouras de subsistência e até nas próprias expedições de
exploração.
Povoamento e expansão territorial
É bom acrescentar que as expedições bandeirantes tiveram importância crucial para o
povoamento, diversificação das atividades econômicas e expansão
territorial do Brasil colonial. Ao longo das trilhas percorridas e dos
caminhos abertos pelos bandeirantes foram surgindo diversos povoados. As
Bandeiras que percorreram o litoral à procura de ouro, partindo de São
Vicente, deram origem às vilas de Itanhaém, Iguape, Paranaguá, Laguna e Desterro,
entre outras. A penetração no sertão deu origem a vilas e arraiais como
Cuiabá, Vila Rica, Diamantina, Sabará e Mariana, entre outras.
As expedições bandeirantes também possibilitaram a descoberta de
riquezas minerais como ouro, prata e diamante, metais preciosos que
deram origem a um novo ciclo econômico de exploração colonial. O êxito
dos bandeirantes, principalmente na descoberta de metais preciosos, fez
com que a Coroa portuguesa passasse a financiar muitas expedições com o
objetivo de encontrar essas riquezas minerais e explorá-la como
alternativa à crise econômica provocada pelo declínio da produção do
açúcar.
Enquanto as Entradas respeitavam os limites
territoriais fixado pelo Tratado das Tordesilhas, que dividia as terras
do continente americano entre Portugal e Espanha, as Bandeiras
geralmente ultrapassavam essa fronteira, em direção às regiões Sul,
Norte e Centro Oeste. Entre 1580 e 1640, durante 60 anos, Portugal ficou sob domínio
Espanhol. Durante esse período, também conhecido como a união das Coroas
ibéricas, a Espanha governou Portugal e todos os seus domínios. Nessa
época, os bandeirantes não encontraram resistências quanto a ultrapassar
Tordesilhas. Quando Portugal se libertou do jugo espanhol o território
colonial brasileiro havia se ampliado significativamente, tendo grande participação nessa ampliação a grande expedição de Pedro Teixeira através dos rios Amazonas e Napo em 1637.
Mitos e monumentos
As Bandeiras deram origem a narrativas épicas, mitos e lendas sobre o
desbravamento e conquista do sertão brasileiro, que hoje fazem parte da cultura luso-brasileira e do simbolismo regional. Embora tenham tido momentos não muito amigáveis com os nativos, os bandeirantes são retratados como homens heróicos,
portadores de coragem, bravura e espírito aventureiro, que penetraram
na mata e desbravaram a vastidão do interior até então desconhecido,
enfrentaram e dominaram índios, descobriram e exploraram riquezas
minerais e fundaram povoados.
Na capital paulista, outrora vila
e centro irradiador das expedições bandeirantes, ergueu-se um
Monumento
às Bandeiras, de Victor Brecheret, um dos mais importantes escultores
brasileiros. E bandeirantes famosos como Bartolomeu Bueno da Silva
(conhecido como Anhanguera), Antônio Raposo Tavares e Fernão Dias Pais,
foram homenageados tendo seus nomes dados a importantes rodovias que
percorrem o interior do Estado de São Paulo e ligam este à Região Sul.